terça-feira, junho 01, 2010

Caio Fernando Abreu era eu...

"Tenho trabalhado tanto, mas penso sempre em você. Mais de tardezinha que de manhã, mais naqueles dias que parecem poeira assentada aos poucos e com mais força enquanto a noite avança. Não são pensamentos escuros, embora noturnos. Tão transparentes que até parecem de vidro, vidro tão fino que, quando penso mais forte, parece que vai ficar assim clack! e quebrar em cacos, o pensamento que penso de você. Se não dormisse cedo nem estivesse quase sempre cansado, acho que esses pensamentos quase doeriam e fariam clack! de madrugada e eu me veria catando cacos de vidro entre os lençóis. Brilham, na palma da minha mão. Num deles, tem uma borboleta de asa rasgada. Noutro, um barco confundido com a linha do horizonte, onde também tem uma ilha. Não, não: acho que a ilha mora num caquinho só dela. Noutro, um punhal de jade. Coisas assim, algumas ferem, mesmo essas que são bonitas. Parecem filme, livro, quadro. Não doem porque não ameaçam. Nada que eu penso de você ameaça. Durmo cedo, nunca quebra.

Daí penso coisas bobas quando, sentado na janela do ônibus, depois de trabalhar o dia inteiro, encosto a cabeça na vidraça, deixo a paisagem correr, e penso demais em você. Quando não encontro lugar para sentar, o que é mais freqüente, e me deixava irritado, descobri um jeito engraçado de, mesmo assim, continuar pensando em você. Me seguro naquela barra de ferro, olho através das janelas que, nessa posição, só deixam ver metade do corpo das pessoas pelas calçadas, e procuro nos pés daquelas aqueles que poderiam ser os seus. (A teus pés, lembro.). E fico tão embalado que chego a me curvar, certo que são mesmo os seus pés parados em alguma parada, alguma esquina. Nunca vejo você - seria, seriam? Boas e bobas, são as coisas todas que penso quando penso em você. Assim: de repente ao dobrar uma esquina dou de cara com você que me prega um susto de mentirinha como aqueles que as crianças pregam umas nas outras. Finjo que me assusto, você me abraça e vamos tomar um sorvete, suco de abacaxi com hortelã ou comer salada de frutas em qualquer lugar. Assim: estou pensando em você e o telefone toca e corta o meu pensamento e do outro lado do fio você me diz: estou pensando tanto em você. Digo eu também, mas não sei o que falamos em seguida porque ficamos meio encabulados, a gente tem muito pudor de parecer ridículos melosos piegas bregas românticos pueris banais. Mas no que eu penso, penso também que somos meio tudo isso, não tem jeito, é tudo que vamos dizendo, quando falamos no meu pensamento, é frágil como a voz de Olívia Byington cantando Villa-Lobos, mais perto de Mozart que de Wagner, mais Chagal que Van Gogh, mais Jarmush que Win Wenders, mais Cecília Meireles que Nelson Rodrigues.

Tenho trabalhado tanto, por isso mesmo talvez ando pensando assim em você. Brotam espaços azuis quando penso. No meu pensamento, você nunca me critica por eu ser um pouco tolo, meio melodramático, e penso então tule nuvem castelo seda perfume brisa turquesa vime. E deito a cabeça no seu colo ou você deita a cabeça no meu, tanto faz, e ficamos tanto tempo assim que a terra treme e vulcões explodem e pestes se alastram e nós nem percebemos, no umbigo do universo. Você toca minha mão, eu toco na sua.

Demora tanto que só depois de passarem três mil dias consigo olhar bem dentro dos seus olhos e é então feito mergulhar numas águas verdes tão cristalinas que têm algas na superfície ressaltadas contra a areia branca do fundo. Aqualouco, encontro pérolas. Sei que é meio idiota, mas gosto de pensar desse jeito, e se estou em pé no ônibus solto um pouco as mãos daquela barra de ferro para meu corpo balançar como se estivesse a bordo de um navio ou de você. Fecho os olhos, faz tanto bem, você não sabe. Suspiro tanto quando penso em você, chorar só choro às vezes, e é tão freqüente. Caminho mais devagar, certo que na próxima esquina, quem sabe. Não tenho tido muito tempo ultimamente, mas penso tanto em você que na hora de dormir vezemquando até sorrio e fico passando a ponta do meu dedo no lóbulo da sua orelha e repito, repito em voz baixa: te amo tanto dorme com os anjos. Mas depois sou eu quem dorme e sonha, sonho com os anjos. Nuvens, espaços azuis, pérolas no fundo do mar. Clack! Como se fosse verdade, um beijo."

segunda-feira, dezembro 08, 2008

Vai embora, sentimento!

Me apeguei ao sentimento...

Agora não consigo largar, não consigo deixá-lo, toda vez que estou quase esquecendo ele, meu coração fica apertadinho, com medo do vazio que vai ficar quando ele for.
Porquê mesmo que não seja correspondido, ele tá aqui, correspondendo... E corresponde a um espaço, digamos, bem considerável...

Tem dias que eu quero que ele vá:
- Sai daqui, sentimento! Sai correndo antes que eu me arrependa!
Mas ele vai tão devagarzinho que eu volto atrás, e acabo puxando-o de volta...

Tem dias que eu quero que ele fique:
- Pode ficar aqui quietinho, uma hora a gente arruma serventia pra você.
Mas ele se torna tão espaçoso e barulhento que acaba tirando meu sossego...

Tem dias que eu já não sei mais de nada... Hoje é um deles.

Só sei que li uma crônica do Vinicíus de Moraes* e doeu, tá? Doeu com força.
E eu que nem sou fã de poetas...

*A culpada pelo post de hoje:

http://www.viniciusdemoraes.com.br/antologia/view_user_antologia.php?id_antologia=3405&id_texto=518&musica=0&ordem=39

domingo, novembro 16, 2008



- So, what's wrong with the blueberry pie?

- There's nothing wrong with the blueberry pie, just people make other choices. You can't blame the blueberry pie, it's just... no one wants it.

quinta-feira, julho 17, 2008

Something wrong?

Sentí necessidade de escrever muitas vezes durante o abandono desse blog... Mas como sou excluída digitalmente, sempre que isso acontecia, eu plantava bananeira e esperava a vontade passar.

Mudei de endereço, primeira vez que durmo sozinha num apartamento e não sinto medo. Talvez porque este é o menor apartamento onde já dormí sozinha.
A porta da cozinha era estreita demais pra passar a geladeira.
Alargamos a porta.
A cozinha é pequena demais pra abrigar geladeira e fogão juntos.
Algo me diz que geladeira voltará pra sala.

Você sabe que tá ficando meio velha quando coloca o casaco por cima do pijama, vai na rua comprar chocolates e o dvd de "Alfie", se enfia embaixo das cobertas, e suspirar pelo Jude Law vira seu programa de fim de semana.

Você sabe que tá ficando meio doida quando o maior nerdestudantedemedicinadelínguapresa que existe evahhh, te chama de super freak! Como assim??? Super freak!!!

Sem mais no momento.


P.S.: Deixando claro que não tenho nada contra nerds, nem muito menos contra pessoas de língua presa.

quarta-feira, dezembro 12, 2007

Estrelas

Ontem eu ví estrelas da minha cama...várias delas, mais de dez, ou vinte...não contei, mas eram muitas.
Nunca tinha acontecido isso, ou eu nunca as tinha notado, ou elas nunca tinham parado por ali, sei lá.
O fato é que as estrelas me lembraram a infância, quando eu achava que era só olhar pra uma delas e fazer um pedido, que TCHARAM!, na manhã seguinte tudo ia estar resolvido.
Mas na noite passada eu fui um pouco menos utópica, não seria qualquer estrela que realizaria meu pedido não, tinha que ser uma estrela cadente...
Resultado: fiquei horas olhando pro céu esperando uma delas cair.
Nenhuma caiu.
Perdí meu sono.
Me sentí mais boba do que quando era uma garotinha.
Fiquei pensando se o pedido que faria era realmente necessário.
Odeio pensar.
Tudo na minha vida leva o triplo do tempo normal só porque penso demais.
Talvez se eu agisse mais e pensasse menos, as coisas seriam melhores...
Talvez....

Talvez é uma palavra engraçada, né?
Talvez...Tal-vez.
É muito providencial também.
Na dúvida, sempre diga talvez. O sim e o não são muito definitivos.

...

Olha só a Joy...Pensando demais...de novo.
Culpa das estrelas!
Nunca mais durmo com as cortinas abertas.

quarta-feira, junho 13, 2007

dia dos namorengols

Ontem foi dia dos namorados.
Weee!
Acho bobagem, comercial, e meio sem sentido.
Até concordo q seja bonitinho, tirar o dia pra fazer agrados, declarações... mas sejamos racionais, é só mais uma forma q os comerciantes acharam pra ganhar dinheiro, e uma desculpa pros consumistas de plantão! aiheaheuhae
Pra mim, é quase tão útil quanto o dia da entrega da insígnia*...ou seja, legal na hora, mas no dia seguinte volta tudo ao normal, o q tá ruim, continua ruim, e o q tá bom, continua bom. Simples assim.

Acho triste estar sem namorado no reveillon, ou antes de uma prova difícil, ou quando sinto uma saudade gigantesca dos meus pais, ou quando fico sozinha nesse apartamento e demoro pra dormir com medo de entrar um ladrão...ou quando inventei uma receita nova de omelete e não tem ninguém pra provar naquele momento, entendem?
Nessas horas q sinto falta de alguém, e não quando as meninas estão ganhando flores, chocolates, e etc, no tal do dia 12.
Embora eu goste de chocolate...preferiria dividir uma xícara de café num dia 29 de março chuvoso em q eu tivesse com frio.
E não é recalque, (Gui talvez achará isso, pq toda vez q eu falei a palavra "doze" nos últimos dias, ele achou q eu tava prestes a cortar meus pulsos assim iaheuihaieu), percebam q não estou subestimando a importância de um namoro, e sim a data comemorativa em sí.

Claro q um namoradinho seria agradável, mas se eu ainda não aprendí a "correr com as borboletas" como disse o caro anônimo q escreve bonito**...deixo essa idéia em stand-by. Aliás, se a pessoa em questão quiser me explicar como se faz isso, eu agradeço (y) até pq, no momento, as borboletas estão voando em círculos e tá difícil pra acompanha-las...



* Entrega da insígnia: cerimônia que já foi tradicional nas faculdades de enfermagem, mas q hoje em dia só é feita na Unirio, basicamente, é uma mini-formatura onde te entregam um broche pra marcar sua entrada nos hospitais da vida.

** Damien Rice acorda os meus sonhos, que de tanto serem sonhados, agora são nada mais que pesadelos. Você não pode com as borboletas, ninguém pode. Joy, não corra delas, corra com elas.

domingo, junho 03, 2007

filtros

De vez em quando, eu passo por uma fase em q acabo filtrando tudo de ruim q acontece...de modo q ver o jornal, se torna uma tortura à cada nova notícia ruim q eles dão, ou ver um mendigo dormindo na rua me deixa mal o dia todo, ou lembrar no meio do banho q a água do planeta tá acabando me faz desligar o chuveiro rapidamente me sentindo extremamente culpada...enfim, coisas do tipo.
Não é legal não, eu fico refletindo sobre os problemas do mundo todo e não me deixo ficar triste pelos meus, q ao meu ver, pelo menos nessa fase, são os mais idiotas do mundo.
Então, ontem estava eu acompanhado as consultas da minha professora de genética na comunidade carente q ela desenvolve o projeto, e à cada nova criança q entrava no consultório, eu ficava mais e mais triste...
Eles não tinham nada grave, mas eram crianças com aparência tãooo sofridas...mas ok, eu tava repetindo pra mim mesma: vc não pode ser assim...vc nunca vai ser uma boa profissional se não começar a racionalizar um pouco as coisas, se controla Joyce...e eu tava disfarçando bem até entrar aquele menino.
Nunca ví olhos tão tristes...
Era o aniversário de 11 anos dele, tava lá com a mãe pra ajudar a cuidar dos irmãos mais novos, e o tempo todo recebia olhares de reprovação dela, como se não tivesse feito nada direito, ele tinha uma assimetria facial, a mãe disse q os amigos caçoavam constantemente dele por causa disso...à essa altura eu já tava com muita dó, até q olho pro braço dele e percebo...o relógio não funciona. E foi esse simples detalhe idiota, q me forçou a ter o máximo de auto-controle q podia...eu não sei pq, mas o fato dele ter um relógio q não funcionava me fez entender na hora pq aquele menino de 11 anos aparentava ter 16, e o pq daqueles olhos tãooo tristes.
Quando ele tava quase saindo, eu disse:
- Feliz aniversário!
Ele me olhou como se fosse a primeira vez q ouvia aquilo no dia...deu um sorriso enorme como quem pensava:
- Alguém notou a minha presença aqui!

E não, eu não sou nem de longe defensora de fracos e oprimidos, não faço muita coisa pra ajudar alguém, ou pra melhorar a situação do mundo...mas aquele menino me comoveu como nunca, e eu queria muito ter falado pra ele q tudo vai dar certo, q ele ainda vai ser muito feliz...mas em vez disso, vim pra casa, e chorei.
Daqui a pouco a fase passa, sabe? Daqui a pouco...